Neuralgia do Trigêmeo

*Artigo revisado pelo Dr. Fábio Poianas Giannini (CRM 100.689)*

O que é neuralgia do trigêmeo?

A neuralgia do trigêmeo é uma condição que causa sensações dolorosas semelhantes a um choque elétrico em um lado do rosto. Essa condição de dor crônica afeta o nervo trigêmeo, responsável por transportar as sensações do rosto até o cérebro.

Para quem tem neuralgia do trigêmeo, mesmo um leve estímulo do rosto, como a ação de colocar uma maquiagem ou escovar os dentes, pode resultar em uma dor muito intensa.

A pessoa pode, inicialmente, experimentar ataques leves e curtos. Porém, a condição consegue progredir e provocar crises de forte dor mais frequentes e longas.

A neuralgia afeta as mulheres com mais frequência do que os homens. O mais provável é que o problema surja após os 50 anos.

Em razão da variedade de alternativas disponíveis de tratamento, ter neuralgia do trigêmeo não quer dizer que o paciente terá uma vida inteira de dores. Em geral, os médicos podem controlar a neuralgia do trigêmeo com medicação ou cirurgia.

Quais são os tipos de neuralgia do trigêmeo?

Existem duas formas principais de neuralgia do trigêmeo:

• Neuralgia do trigêmeo típica: O paciente provavelmente experimentará episódios dolorosos agudos, intensos e esporádicos. Ele pode sentir dor ou sensação de queimação em todo o rosto que é capaz de durar de alguns segundos a dois minutos. Embora haja pausas sem dor entre os episódios, isso pode continuar por até duas horas.
• Neuralgia do trigêmeo atípica: Esse tipo é menos doloroso e intenso, mas mais generalizado. A pessoa provavelmente sentirá dor constante, principalmente sensações de pontadas ou queimação, juntamente com dores persistentes.

Quais são os sintomas da neuralgia do trigêmeo?

Os sintomas da neuralgia do trigêmeo costumam incluir um ou mais destes padrões:

• Dores que acontecem com espasmos faciais
• Dores atingindo um lado do rosto de cada vez
• Dor espalhada num padrão amplo ou concentrada em um ponto
• Dores que acontecem à noite, durante o sono (sintoma mais raro)
• Ataques de dor que podem durar poucos segundos ou diversos minutos
• Episódios de dores intensas ou agudas parecidos com choques elétricos
• Ataques espontâneos de dor ou resultantes de ações como mastigar, tocar o rosto, escovar os dentes ou falar
• Ataques múltiplos que podem durar dias, semanas, meses ou mais
• Dor em áreas como mandíbula, bochecha, dentes, lábios, gengivas ou, com menos frequência, testa e olho
• Ataques que se tornam mais intensos e frequente com o passar do tempo

Quais são as possíveis causas da neuralgia do trigêmeo?

A neuralgia interrompe as funções do nervo trigêmeo. Em geral, o problema está no contato entre o nervo trigêmeo, na base do cérebro, com uma veia ou artéria, ou seja, um vaso sanguíneo normal. Porém, esse contato pressiona o nervo e provoca o mau funcionamento.

Embora a compressão por um vaso sanguíneo seja um dos motivos mais comuns de neuralgia do trigêmeo, também existem muitas outras causas potenciais. Algumas podem estar relacionadas à esclerose múltipla ou a alguns quadros infecciosos.

A neuralgia também pode ser provocada por um tumor que comprime o nervo trigêmeo. Alguns pacientes podem ter a condição em razão de uma lesão cerebral ou outras anormalidades. Em outras circunstâncias, um trauma facial, um acidente vascular cerebral ou lesões cirúrgicas são capazes de causar a doença.

Além da neuralgia do trigêmeo, este termo também é usado em outras circunstâncias, envolvendo outros nervos e recebendo diversos nomes a partir da localização das dores no corpo, como neuralgia cervical, neuralgia intercostal, neuralgia auricular, nevralgia do nervo ciático ou neuralgia occipital (osso da parte de trás da cabeça).

A chamada neuralgia pós-herpética, por exemplo, é uma complicação do vírus herpes. A condição atinge fibras nervosas e a pele, o que provoca dores de origem neurológica que continuam mesmo após as bolhas e erupção na pele da herpes sumirem.

Há ainda a neuralgia do nervo pudendo, responsável pelo controle motor de músculos da região pélvica. O nervo pode ser danificado se a pessoa ficar muito tempo sentada, por levantamento de peso, trabalho de parto, entre outros fatores.

Quais são os gatilhos da doença?

Muitos gatilhos são capazes de desencadear as dores da neuralgia do trigêmeo, incluindo:

• O ato de se barbear
• Tocar o rosto
• Comer ou beber
• Conversar ou sorrir
• Lavar o rosto
• Escovar os dentes
• Colocar maquiagem
• Até uma brisa soprando levemente sobre a face

Como é feito o diagnóstico?

Um neurologista irá diagnosticar a neuralgia do trigêmeo com base no que for relatado pelo paciente sobre as dores, incluindo:

• Tipo: A dor relacionada à neuralgia do trigêmeo costuma ser breve e súbita, como a um choque
• Localização: As áreas do rosto atingidas pela dor ajudarão o médico a entender se o nervo trigêmeo está envolvido
• Gatilhos: Em geral, as dores ligadas à doença são causadas por ações como falar, comer, tocar o rosto ou até por uma brisa fresca

Provavelmente, o médico solicitará diversos testes para diagnosticar a neuralgia do trigêmeo e determinar as causas relacionadas à condição, incluindo:

• Exame neurológico: Tocar e examinar partes de seu rosto ajuda o profissional a determinar em que pontos a dor existe e quais são os ramos do nervo trigêmeo afetados. Os testes de reflexo também auxiliam o especialista a entender se os sintomas são provocados pela compressão de um nervo ou outro motivo
• Ressonância magnética: Uma ressonância da cabeça é importante para investigar se condições como a esclerose múltipla ou um tumor podem ser a causa da neuralgia Uma dor facial pode ser provocada por diversos problemas diferentes, portanto, um diagnóstico preciso é importante. O neurologista deve solicitar exames adicionais para descartar outras condições.

Como tratar a doença?

Medicamentos

• Anticonvulsivantes: A carbamazepina costuma ser a primeira escolha para o tratamento da dor associada à nevralgia. O médico também pode prescrever outros medicamentos deste tipo. Embora eles possam ajudar a aliviar a dor, existem efeitos colaterais, incluindo tontura, náusea, confusão e sonolência
• Antidepressivos: Amitriptilina ou nortriptilina são os remédios para nevralgia mais comuns nesta categoria e geralmente são usados para tratar os sintomas da nevralgia do trigêmeo tipo 2
• Relaxantes musculares: O baclofeno pode ser usado sozinho ou em conjunto com carbamazepina ou fenitoína
• Outros medicamentos: Uma injeção de toxina botulínica (botox) pode ser usada para bloquear os nervos sensoriais. Em alguns casos, bloqueios nervosos são usados para fornecer alívio temporário

Cirurgia

Se o paciente não responder a nenhum desses medicamentos ou acreditar que sua condição está piorando com o tempo, pode precisar de uma cirurgia. Existem várias opções diferentes de procedimento cirúrgico.

O médico provavelmente irá recomendar um procedimento com base na gravidade da dor, saúde física, cirurgias anteriores e riscos e benefícios relativos. Além disso, é mais difícil realizar a cirurgia naqueles que sofrem de neuralgia do trigêmeo tipo 2.

As técnicas cirúrgicas incluem:

• Compressão de balão: Por meio de um tubo, um pequeno balão é inserido no paciente pela bochecha. O balão é inflado, comprimindo o nervo e danificando as fibras causadoras da dor. O balão é removido no final. O procedimento alivia os sintomas por um a dois anos, embora possa causar dormência no rosto
• Rizotomia por injeção de glicerol: Ao injetar glicerol na raiz do nervo trigêmeo, esse procedimento causa dano seletivo ao nervo, o que interrompe a capacidade do corpo de transmitir sinais de dor ao cérebro. Este procedimento também pode suprimir a dor por um a dois anos e causar dormência facial ou formigamento
• Lesão térmica por radiofrequência: Uma agulha é inserida na bochecha e envia uma corrente elétrica para identificar o ponto de dor. Calor é aplicado no nervo até que uma lesão se forme, destruindo algumas fibras nervosas. Metade dos pacientes veem os sintomas voltarem após três ou quatro anos. Pode causar dormência facial
• Descompressão microvascular: Procedimento mais invasivo, em geral, é o mais bem-sucedido entre todos os citados acima, pois proporciona alívio da dor por até 10 anos (mais de 70% dos pacientes tiveram algum tipo de alívio de seus sintomas)

Fisioterapia

A fisioterapia é uma opção que restaura o bem-estar físico e psicológico de um indivíduo por meio de diferentes técnicas. O tratamento fisioterapêutico da neuralgia do trigêmeo se concentra nos objetivos e necessidades do paciente.

Segundo estudos, o tratamento fisioterapêutico de pacientes com a condição é eficiente e inclui:

• Uso de ultrassom
• Terapia com corrente interferencial (um tipo de estimulação elétrica)
• TENS (sigla em inglês para estimulação elétrica transcutânea): correntes elétricas aplicadas na pele superficialmente, por meio de eletrodos (técnica mais eficaz e mais utilizada)

A fisioterapia também tem por objetivo diminuir a dor e melhorar a capacidade do paciente fazer suas atividades diárias usando:

• Exercícios isométricos para o pescoço
• Educação do paciente sobre dieta, controle do sono e repouso
• Técnicas de relaxamento, como exercícios de respiração profunda
• Exercícios cardiovasculares para melhorar os níveis de saúde e condicionamento físico
• Conselhos sobre como evitar o uso de água fria para beber e lavar o rosto, mas também mastigar com o lado não afetado

Acupuntura

A acupuntura envolve a inserção de agulhas finas ao longo dos “pontos de gatilho” para proporcionar alívio da dor. Algumas pessoas com neuralgia do trigêmeo relatam que a acupuntura ajuda a reduzir a intensidade ou a frequência dos surtos.

Meditação e programas de modificação do estilo de vida também são opções para quem procura tratamentos mais naturais para a doença ou um tratamento complementar após uma cirurgia.

Alimentação para prevenir neuralgia

A alimentação é uma opção de tratamento mais natural para neuralgia do trigêmeo. Uma dieta para a doença deve ter baixo teor de gordura saturada. Em estudos, pacientes afirmaram que a dor passou de intensa para mínima em semanas. Algumas opções para a dieta incluem:

• Frutas cítricas
• Grãos integrais
• Todos os tipos de vegetais
• Produtos lácteos sem gordura
• Carnes magras, como aves e peixes

Embora seja importante saber quais alimentos ajudam mais o corpo para quem sofre de neuralgia do trigêmeo, é igualmente importante saber quais alimentos desencadeiam os sintomas. Ao entender isso, os pacientes podem evitar surtos.

Por exemplo, comer sopa quente desencadeia a nevralgia. Muitos pacientes precisam evitar todas as formas de alimentos e bebidas quentes. Isso ocorre porque o nervo que costuma ser acionado em um ataque passa pelas bochechas e ao longo das mandíbulas.

Temperaturas muito quentes e muito frias podem irritar o nervo, fazendo com que ele falhe. Além disso, o gatilho do álcool na neuralgia do trigêmeo também deve ser evitado.

Confira outros alimentos e bebidas a evitar:

• Alimentos picantes
• Bebidas com cafeína
• Alimentos com alto teor de açúcar
• Alimentos altamente processados